"Ser bom é sempre um ato de coragem"

Estou tentando escrever uma resenha a altura, mas nada sai direito. A vontade é sair escrevendo até que eu não ache mais palavras para descrever o que R. J. Palácio nos faz sentir com seus livros. Ler o outro lado da história, às vezes é uma coisa chata, mas desta vez parece que havia faltado algo em 'Extraordinário' que não podia ficar de fora, talvez a parte mais importante. A parte que podemos ver que o preconceito não fere só quem sofre, mas aquele que pratica.

Compreendo que pais tentem proteger seus filhos, eu sei que também irei proteger os meus quando eles vierem, mas os pais de Jullian me ensinaram que por mais que amemos nossos filhos e que tenhamos boa intenção aos protege-los, nem sempre é o certo a ser feito. A mãe do Jullian estava tão preocupada por seu filho não estar preparado para conviver com Auggie e acho que ela foi tão conivente com o bullying que seu filho estava fazendo tentando achar uma razão, uma desculpa para tal coisa.

A verdade que não existe uma preparação. Estamos tão contaminados, aceitando tudo o que é belo e achando que está é a forma correta da vida, que quando vemos as coisas não tão belas tentamos encontrar uma razão para isso. Mas acho que no fim, ela só contribuiu para o sofrimento de seu filho.August não tinha culpa de ser como era, nenhuma das pessoas "especiais" tem, elas não merecem esse tipo de resposta do mundo, merecem amor. Mas ficamos tão cegos por causa desse preconceito.

Acho que só lendo para ter ideia da dimensão que isso nós faz mal. Que bom que o fim foi de uma criança arrependida e talvez pais mais conscientes de que os filhos tem que assumir seus erros. É uma boa visão do que devemos ser.

                         "Às vezes odiamos as coisas de que temos medo"

Conheci um pouco dele no blog Clube do livro lá da Capricho, que foi uma resenha muito gostosa e vale muito a pena conferi lá o que o Thiago Theodoro escreveu. Ler aquilo fez com que eu quisesse sair atras dele na hora. Acabei que esperei bastante para compra-lo, mas toda a espera valeu muito.

Essa capa é um pequeno spoiler sobre o que o livro fala e eu acho ela linda. Outra duas coisas que me encantou foi que existe uma personagem com o meu nome, e isso fez com que eu gostasse mais dele e a história se desenrola na minha cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Conta a história de um garoto que vivia no interior com a família e que vem para o Catete. Ele não tem um nome, mas é super fácil se apegar a ele porque ele conta várias coisas que podem acontecer com adolescentes e você acaba se identifica, inclusive drama familiar. Mas tudo começa quando ele encontra a Paloma e eles ficam amigos na hora.

Eu confesso que tenho uma certa agonia por ele ser um rapaz sem nome e sem rosto, me incomoda a ideia de não personificá-lo, então eu inventei um nome para ele, o que deixou o processo de leitura fácil e bacana.

A Paloma dá um skate para o garoto, que consequentemente começa a andar de skate pela cidade e acaba conhecendo um outro garoto, novamente sem rosto e sem nome. E ele conta um pouco sobre a vida dele para esse outro garoto, sobre como conheceu a Paloma, sobre o transito caótico, sobre o amor, e a parte que mais amo, sobre o coração do Rio. Você sabe onde fica o coração do Rio do Janeiro? Então você precisa ler para saber.

Vale muito ler esse livro, e se você curte romance, é possível identificar ele no livro, mas bem pouco, acho que ele fala mais sobre amizade. É super leve e a única coisa que me decepcionou foi o tamanho dele, eu esperava mais, porém não chega a ter nem 80 paginas, então se torna ideal para uma viagem de algumas horinhas. Simplesmente perfeito.

"Não tenho pressa, não temos pressa, a mim não interessa a velocidade dos automóveis. Interessa- me estar com ela, ao lado dela, e sentir esse fio que liga o nosso olhar. " Página 36.

Tenho percebido que tenho ficado mais chata com os livros que leio e para que eu goste de algum ele precisa me encantar logo no inicio. Eu não sei se já falei que eu tenho um certo preconceito com livros brasileiros que resolvi combater em 2015 e a primeira leitura nacional de 2016 foi cedida pela parceria com a Editora Draco.

"Nem sempre as coisas são como parecem. Às vezes o mundo é um imenso teatro, disse uma voz sombria dentro de sua cabeça"